Carlos Rodrigues e Pedro Tavares , enfermeiros da Unidade de Cuidados Paliativos do Hospital da Luz Lisboa, e Isabel Galriça Neto , médica e diretora dessa unidade, são os autores de um artigo científico, publicado este mês no site Cureus – Journal of Medical Science, sobre o impacto da COVID-19 nos cuidados paliativos . O artigo descreve os principais desafios que a pandemia colocou aos profissionais de saúde que trabalham em cuidados paliativos, revelando que a prestação destes cuidados foi afetada negativamente a vários níveis, nomeadamente na relação e na comunicação com os doentes e com as respetivas famílias, na dinâmica de trabalho das equipas e na própria utilização dos recursos de saúde associados à prestação de Cuidados Paliativos. Tratando-se de um estudo qualitativo, a principal conclusão é a de que a pandemia da COVID-19 impactou negativamente a prestação de cuidados paliativos, desafiando as equipas envolvidas nestes cuidados a ajustar-se rapidamente a novas realidades para assegurar o cuidado adequado aos seus doentes. Nessa medida, dizem os autores, foram identificadas duas áreas em que se mostra necessário definir e adotar novas estratégias de trabalho e de organização das equipas, quer diretamente na relação com o doente e sua família, quer na relação interprofissional. De acordo com o estudo, a oferta de cuidados paliativos em tempo de pandemia foi afetada por mudanças substanciais na relação e na comunicação entre os profissionais e os doentes e seus cuidadores ou famílias, e na utilização de recursos de saúde. Numa tentativa de diminuir o impacto destas mudanças para futuros cenários de alteração substancial das circunstâncias, os profissionais de saúde envolvidos em cuidados paliativos identificaram estratégias para melhorar a prestação destes cuidados , notando que, durante esta pandemia, foi imperativo implementar estratégias rigorosas de gestão dos recursos humanos especializados. Por outro lado, afirmaram que a distância física e os equipamentos de proteção individual são barreiras à comunicação e ao suporte emocional, essenciais nos cuidados paliativos e que essa barreira é ainda mais acentuada pela distância física exigida a familiares e cuidadores. Isto sempre sem perder de vista que o principal objetivo da prestação de Cuidados Paliativos continua a ser a mitigação do sofrimento, quer dos doentes, quer dos seus cuidadores e familiares. O estudo foi publicado a 13 de novembro, a amostra inclui profissionais de saúde da Unidade de Cuidados Paliativos do Hospital da Luz Lisboa, respeitando critérios de inclusão específicos como formação básica em cuidados paliativos e experiência profissional na área superior a 1 ano. «O isolamento do círculo familiar e social, a perceção de risco para toda a família de transmissão da infeção por COVID-19, acrescida da incerteza quanto ao seu efeito e, em alguns casos, a culpa de ter sido um possível transmissor, são fatores que contribuem para a resposta emocional a esta pandemia. A redução do contato entre doentes e profissionais de saúde, sabendo que a proximidade e o contato físico podem ser terapêuticos, também é um fator que contribui para o aumento do sofrimento» , lê-se neste artigo, que ainda acrescenta: «Os profissionais de saúde e os cuidadores enfrentam não só uma enorme pressão assistencial, mas também dificuldade em prestar apoio individualizado. Muitos sentem-se ultrapassados pelas circunstâncias, alguns afetados diretamente e outros com necessidade de apoio para enfrentar situações de tamanha complexidade. Deve ser promovida a resiliência entre os profissionais de saúde, apoiar e promover a coesão da equipa» . Os cuidados paliativos devem ser prestados a todos os que deles necessitam, com ou sem COVID-19. Os autores concluem «que, ao objetivo fundamental de limitar a expansão da doença e aumentar a probabilidade de recuperação, devemos acrescentar o proporcional de qualidade, conforto, dignidade e compaixão, aos que tanto dela necessitam» . Leia o artigo: The Impact of COVID-19 on Palliative Care: Perspective of Healthcare Professionals