A Acta Médica Portuguesa, revista científica da Ordem dos Médicos, publica, na sua edição de outubro, um artigo científico em que é autora principal a neonatalogista do Hospital da Luz Lisboa Marta Ferreira . No artigo, que tem ainda como coautoras duas outras especialistas do Hospital Fernando Fonseca, analisam-se as características dos recém-nascidos filhos de mães com COVID-19 , concluindo-se que não existem resultados adversos quando os bebés se mantêm no mesmo quarto da mãe infetada com SARS-CoV-2 e são amamentados. O estudo teve como objetivo avaliar os resultados clínicos das grávidas com COVID-19 e dos seus recém-nascidos para perceber, entre outros aspetos, os riscos de transmissão vertical do SARS-CoV-2 pelo parto e de infeção quando o bebé fica junto da mãe positiva após o nascimento e é amamentado – uma área onde tem sido difícil, admitem as autoras, obter orientações clínicas precisas. Dos cerca de 1.800 partos realizados no Hospital Fernando Fonseca entre abril e dezembro de 2020, as autoras estudaram os casos das 81 mães que testaram positivo ao SARS-CoV-2 na admissão para o parto e dos seus recém-nascidos. A maioria destas grávidas (88,6%) estava assintomática e, após o parto, cerca de 80% manteve o recém-nascido no quarto. Mais de metade destes bebés (56,7%) foi amamentada desde logo, nenhum apresentou sintomas relacionados com a COVID-19 e todos testaram negativo ao nascimento e às 48 horas de vida. Do total, 85,2% dos recém-nascidos tiveram alta para o domicílio com a mãe. As mulheres grávidas não são consideradas mais suscetíveis a este tipo de infeção do que a população em geral. No entanto, de acordo com evidências relativas a doenças virais semelhantes e a infeções anteriores por outros coronavírus, poderia existir uma maior probabilidade de morbilidade e mortalidade por COVID-19 na gravidez. Análises recentes mostraram, porém, como indica este estudo, que as mulheres grávidas com COVID-19 têm características imunológicas iguais às das mulheres com gravidezes saudáveis , apresentando na sua maioria sintomas leves ou nenhum sintoma. A incidência de infeção em mulheres grávidas em qualquer idade gestacional ainda não é clara, sendo que neste estudo, de todas as mulheres grávidas admitidas para parto, 4,6% testaram positivo, mas a maioria era assintomática. Quanto aos resultados relativamente aos recém-nascidos, este estudo corrobora resultados anteriores, incluindo o facto de não se ter verificado qualquer caso de transmissão por o recém-nascido estar junto da mãe positiva e ter sido amamentado por ela. “Características de recém-nascidos filhos de mães com infeção por SARS-CoV-2 num hospital português”