O Hospital da Luz Lisboa foi o primeiro no setor privado em Portugal a ter uma Unidade de Cuidados Continuados e Paliativos (UCCP) com internamento , um projeto “visionário” que celebra agora 15 anos . “Somos bem-sucedidos porque nos empenhamos a ajudar as pessoas de um grupo muito vulnerável a viver com qualidade. O que nos motiva é saber que esse trabalho tem sentido, que fazemos uma medicina humanizada e, ainda que não dirigida à cura, cientificamente muito rigorosa, de grande proximidade com as pessoas. Tenho um grande orgulho na equipa que se construiu aqui. Vamos continuar a inovar e a trabalhar para a excelência”, afirma Isabel Galriça Neto , num especial Podcast Hospital da Luz sobre os bastidores desta unidade. Isabel Galriça Neto é médica especialista em Medicina Geral e Familiar e tem a competência de Medicina Paliativa, área a que se dedica há mais de 25 anos. É docente na Faculdade de Medicina de Lisboa e na Universidade Católica, foi deputada na Assembleia da República durante 10 anos e presidente da Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos. Já tratou mais de seis mil doentes e respetivas famílias. Em 2004, foi agraciada pelo Presidente da República com o grau de Comendadora da Ordem do Mérito, pelo seu trabalho nesta área. Oiça o Podcast Hospital da Luz com Isabel Galriça Neto. Google | iTunes | Spotify ‘O que fazemos é intervir ativamente e mudar o mundo destas pessoas’ Isabel Galriça Neto recorda neste Podcast Hospital da Luz como foi montar a UCCP em 2007 e o que a distingue. Desfaz alguns mitos em relação aos cuidados paliativos e aproveita para agradecer a todos os que nestes 15 anos aqui trabalharam, bem como aos portugueses, muitos deles figuras públicas, que respondem positivamente aos seus pedidos de colaboração no âmbito de projetos de apoio a doentes. “Na altura, foi um projeto inteligente e visionário, para prestação de cuidados a pessoas com doenças crónicas, progressivas e, dentro dessas, as que têm gravidade maior e não se curam. Visionário porque é um grupo de doentes que foi crescendo na população e nos serviços de saúde, para a qual na ocasião as respostas eram quase inexistentes e ainda hoje continuamos a ter pouca resposta.” “Em síntese, tivemos de fazer o que ainda não estava feito – incluindo consciencializar profissionais de que pode haver respostas distintas, com uma organização distinta, dentro de um hospital. É uma aposta ganha”. “A Medicina fez-se para ajudar todos os doentes, quer estes se curem ou não. Temos um grande hiato nas respostas para as pessoas que não se curam. E os serviços de saúde não podem ignorá-las, desde logo por questões de dignidade e eficiência.” “Para tratar melhor estes doentes, dar-lhes maior qualidade de vida, bem como às suas famílias, para sermos devidamente eficientes e adequados e não gerir mal o dinheiro de todos nós, é preciso haver serviços de cuidados paliativos. Atualmente, só 30% dos portugueses que deles precisam é que a eles têm acesso.” “Desde que se saiba que se tem uma doença progressiva e incurável, nós, ombro a ombro com outras especialidades, mas claramente assumindo que a cura não é realista, podemos ajudar a dar mais qualidade de vida no tempo que resta a estas pessoas – e que podem ser anos, meses ou semanas.” “Nós não somos outsiders na Medicina: usamos as mesmas ferramentas, a mesma investigação, os mesmos fármacos, com adequação e com respostas específicas. Não é para ajudar a morrer, é para, independentemente do tempo que houver de vida – que pode ser de meses, anos ou semanas –, dar mais qualidade às pessoas e aos seus familiares. Aliás, em2021, quase 60% dos nossos doentes tiveram alta da nossa unidade.” “Fazemos o diagnóstico da situação que está a gerar sofrimento ao doente – sabendo que ninguém sofre apenas no seu fígado, nos seus brônquios, no seu pulmão ou no seu estômago, quem sofre é um todo, é uma pessoa. Há uma primeira ferramenta que é o controlo sintomático – os doentes não têm de estar em sofrimento – e depois temos de ir além disso.” “Somos uma equipa com várias áreas de diferenciação. O nosso motor de atuação são as necessidades das pessoas. As pessoas que estão em sofrimento sofrem perdas múltiplas (de autoestima, na sua sensação de dignidade, na autonomia, etc.). É por isso – e esta é outra das marcas distintivas da nossa unidade – que trabalhamos em equipa com psicólogos, fisioterapeutas, assistentes sociais, enfermeiros, farmacêuticos e médicos de outras especialidades.” “Para nós, isto é mais do que um trabalho. É um compromisso de intervir ativamente e mudar o mundo destas pessoas. A qualidade e excelência de cuidados prestados pela UCCP do Hospital da Luz Lisboa é também reconhecida a nível europeu, tendo sido a primeira do país a receber a certificação da Sociedade Europeia de Oncologia Médica (ESMO , na sigla inglesa) como unidade de excelência. Atribuída em 2011, a certificação enquanto centro de excelência para prestar cuidados nesta área foi renovada em 2021 e é o reflexo do trabalho desenvolvido pelos profissionais deste hospital.