Os resultados de um ensaio clínico realizado por neurologistas do Hospital da Luz Lisboa sobre a cefaleia em salvas confirmaram que esta está relacionada com o gene CLOCK , um dos que estão envolvidos na regulação do ritmo circadiano. Os resultados deste estudo acabam de ser publicados na Cephalalgia, a revista oficial da International Headache Society (Sociedade Internacional de Cefaleias). “ Este ensaio clínico só foi possível graças à participação de doentes que são seguidos no Centro de Cefaleias do Hospital da Luz Lisboa , aos quais aproveito esta oportunidade para agradecer a colaboração, que foi inexcedível. Aliás, esta partilha da publicação da Cephalagia é, não só, uma forma de reconhecimento, mas também visa divulgar os resultados aos próprios participantes, uma vez que a participação em ensaios clínicos está sujeita a regras muito exigentes de confidencialidade”, afirma a diretora do Centro e investigadora principal do projeto, Raquel Gil-Gouveia . O estudo foi publicado na edição de abril da Cephalalgia e tem por título “CLOCK gene circannual expression in cluster headache” . Tem como autores, além de Raquel Gil-Gouveia, Renato Oliveira e Ana Neves Costa, Tiago Paixão, Dora Pedroso, André B. Barros e Luís F. Moita (estes cinco últimos investigadores do Instituto Gulbenkian de Ciência) A cefaleia em salvas: É uma dor de cabeça muito intensa localizada na região da testa e de um só lado da cabeça; Afeta principalmente os homens; As crises têm um padrão de ocorrência relacionado com a altura do dia ou estação do ano – ou seja, na mesma pessoa, tendem a ocorrer sempre nos mesmos horários (entre a meia-noite e as 3h00, mais frequentemente) ou alturas do ano (na primavera e no outono, mais frequentemente). Sabe-se hoje que há genes envolvidos na regulação do ritmo circadiano (ritmo natural de dormir-acordar), como o gene CLOCK. O padrão das crises de cefaleia em salvas e o facto de já ser conhecido que este gene e outros do mesmo grupo estão relacionados com diversas funções cerebrais (como sono, resposta ao stresse, aprendizagem e memória, por exemplo) levantou a questão de poder ter também alguma relação com a cefaleia em salvas. Neste ensaio clínico, foi estudada a variação da expressão do gene CLOCK ao longo de um período mínimo de um ano num grupo de 50 pessoas diagnosticadas com cefaleia em salvas (84% homens) e seguidas em consulta de neurologia, comparativamente a um grupo controlo de pessoas (86% homens) com hábitos semelhantes de consumo de álcool, tabaco e café, mas sem cefaleia em salvas, todas seguidas ou recrutadas para o estudo no Hospital da Luz Lisboa. As conclusões foram as seguintes: Verificou-se que a variação do gene CLOCK ao longo do ano ocorreu no mesmo sentido em todas as pessoas estudadas, mas as flutuações foram muito mais ligeiras nas pessoas com cefaleias em salvas. Os resultados suportam a hipótese de o gene CLOCK estar relacionado com a doença e de as pessoas com cefaleias em salvas que foram estudadas terem a sua capacidade de adaptação aos ritmos circadianos e variações ambientais comprometida, o que pode explicar as características sazonais da sua doença. “ CLOCK gene circannual expression in cluster headache ”