No primeiro mês das medidas de confinamento da população para prevenir a covid-19 , Portugal registou mais 1.255 mortes do que é habitual, mais de metade (51%) das quais não teve origem na pandemia, mas sim em doenças como o enfarte do miocárdio. “Isto demonstra que não podemos centrar-nos apenas na covid-19 e que as pessoas têm de retomar os seus tratamentos e voltar a recorrer aos serviços de saúde”, afirmou à SIC Rui Campante Teles , cardiologista de intervenção do Hospital da Luz Lisboa, a propósito do estudo recente da Escola Nacional de Saúde Pública que indica um excesso de mortalidade no referido período em relação ao que é habitual. Segundo esses números – que estão a ser estudados em detalhe pela Associação Portuguesa de Intervenção Cardiovascular (APIC), anteriormente presidida por Rui Campante teles –, entre os dias 16 de março e 14 de abril deste ano, registaram-se mais 1.255 óbitos. A maioria destes casos refere-se a pessoas com mais de 75 anos, o escalão etário de cerca de um terço da população, em predominam as doenças cardiovasculares e a seguir as doenças oncológicas. “É óbvio que, com o confinamento e o medo da pandemia, as pessoas retraíram-se e deixaram de recorrer aos serviços de saúde, o que pode ser fatal no caso das doenças cardiovasculares ”, salienta o especialista, que dá como exemplo a estatística já apurada no Hospital de Santa Cruz, onde também exerce funções: nesse primeiro mês de confinamento, houve uma redução de 50% dos cateterismos habitualmente feitos para tratamento de enfartes do miocárdio em doentes enviados através do serviço 112. Esta redução, acrescenta, não aconteceu apenas em Portugal, havendo já estudos com conclusões no mesmo sentido efetuados por uma associação de 80 centros hospitalares de vários países da Europa. Rui Campante Teles dirige, desde junho deste ano, o Comité de Educação, Treino e Certificação da Associação Europeia de Cardiologia de Intervenção Percutânea (EAPCI, na sigla inglesa) da Sociedade Europeia de Cardiologia (ESC, na sigla inglesa).