“Para chegar a casa, na margem sul de Lisboa, Pedro tinha de subir 50 degraus. Bernardo, o filho de dez anos, contou-os, um por um. Na última semana, 50 foram demasiados degraus para aquele homem de 40 anos. Pedro nem ficou à porta, não regressou a casa e já não regressará”. Começa assim a reportagem de Christiana Martins, na passada edição do Expresso , sobre os últimos meses de vida de um doente oncológico que foi acompanhado na Unidade de Cuidados Continuados e Paliativos do Hospital da Luz Lisboa até falecer e que concordou em dar o seu testemunho. Num texto emotivo, mas objetivo, a jornalista conta a história de Pedro Diogo, de 39 anos, que começou a ser acompanhado nos cuidados paliativos deste hospital no final de 2019, na sequência de complicações de um cancro do cólon que lhe fora diagnosticado um ano antes. A jornalista explica os motivos deste seu trabalho: “Depois de ter entrevistado um médico belga que já auxiliou mais de 200 pessoas a morrer com recurso à eutanásia, era necessário acompanhar quem rejeita esta opção” e Pedro Diogo “mostrou-se disponível para ser acompanhado neste processo”. Morreu a 27 de junho, uma semana antes da publicação da reportagem, em que, como descreve “deixou uma mensagem difícil de aceitar: não há nada a esconder no processo da morte”. Neste processo, porém, os cuidados paliativos são fundamentais. “São cuidados de saúde e não uma abordagem psicossocial. Atendemos a pessoas de todas as idades e com vários tipos de doença, graves, incuráveis ou passageiras. Ajudamos quem tem dor física ou não suporta perdas de capacidades, de autonomia, ajudamos os familiares a não aumentarem o sofrimento do doente e a prepararem a eventual partida. É um trabalho de uma equipa multidisciplinar que se dedica a um rigorosíssimo controlo sintomático, mas que vai muito além disso, é também um processo psicológico de ajuste de expectativas. Procuramos fazer tudo o que devemos e não necessariamente tudo o que podemos. O médico não existe apenas para curar o doente, existe para o tratar”, explica Isabel Galriça Neto , uma das médicas que acompanharam Pedro e que dirige a Unidade de Cuidados Continuados e Paliativos do Hospital da Luz Lisboa. “A 50 degraus de casa”