O problema de saúde pública gerado pelo agravamento das doenças respiratórias crónicas nos grandes centros urbanos não pode ser resolvido apenas pelos sistemas de saúde: impõe-se uma abordagem multidisciplinar, com medidas à escala regional, nacional e global, que promovam a ligação das populações ao meio ambiente e que recuperem o primado da Natureza. Este é o eixo principal em torno do qual se desenvolve “Helsinki by nature: The Nature Step to Respiratory Health” – um documento de reflexão e estratégia sobre as causas das doenças respiratórias crónicas a nível mundial e das medidas para as combater, elaborado por 48 especialistas de todo o mundo. O documento resulta da 12.ª assembleia geral da Aliança Global contra as Doenças Respiratórias Crónicas ( Global Alliance against Chronic Respiratory Diseases – GARD ), organizada pelo Ministério da Saúde da Finlândia e realizada em Helsínquia, em agosto de 2018, que teve a presença de especialistas (na foto em cima) de 30 países, incluindo Brasil, Cabo Verde, Moçambique e Portugal. O documento acaba de ser publicado no Clinical and Translational Allergy (revista científica da European Academy of Allergy and Clinical Immunology) e um dos seus autores é José Rosado Pinto – imunoalergologista do Hospital da Luz Lisboa e consultor da Direção-Geral de Saúde, que foi coordenador nacional e membro da comissão executiva da GARD, aliança patrocinada pela Organização Mundial de Saúde, com sede em Genebra. Entre as conclusões, salienta-se que “é necessária e urgente uma atuação à escala planetária a fim de combater as alterações climáticas e o aumento progressivo do aquecimento global”. “Helsinki by nature: The Nature Step to Respiratory Health” Estes são alguns dos pontos de reflexão do documento: “São necessárias novas abordagens para promover a saúde respiratória e reduzir a mortalidade precoce causada pelas doenças não transmissíveis em 30% até 2030, a meta fixada pelas Nações Unidas nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.” “A saúde mundial define-se como a saúde da civilização humana e o estado dos sistemas naturais dos quais esta depende. Assim, saúde planetária e saúde da humanidade estão interligadas e ambas precisam de ser tidas em conta pelos cidadãos e pelos governos de cada país para cumprirem esses Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.” “O mundo assiste a uma urbanização acelerada , de tal forma que as Nações Unidas preveem que, em 2050, 68% da população mundial viverá em cidades. Este fenómeno é acompanhado do aumento de doenças crónicas (incluindo doenças respiratórias, alérgicas, autoimunes, metabólicas e mentais) e o sistema imunitário humano está em crise, não tendo tempo suficiente para se adaptar às mudanças aceleradas do meio ambiente e do estilo de vida.” “A vida urbana em ambientes cobertos de asfalto e com pouco espaço verde pode não nos fornecer a estimulação microbiana diversa necessária para o desenvolvimento de uma função imunológica equilibrada. Esta situação é agravada pelo uso de alimentos altamente processados, alimentos salgados e gordurosos, bebidas açucaradas e álcool, além da ausência de atividade física. As doenças crónicas referidas acima estão ligadas à alteração da nossa microbiota indígena e ao desaparecimento de espécies antigas das comunidades locais.” “É necessária e urgente uma atuação à escala planetária a fim de combater as alterações climáticas e o aumento progressivo do aquecimento global.”