As pessoas com mais de 70 anos, sobretudo, e com sintomas como falta de ar, cansaço súbito na atividade diária, desconforto no peito e sensação de irem desmaiar ou então que desmaiam mesmo, não podem adiar a ida ao médico , pois podem ter uma doença cardiovascular como a estenose aórtica. E, se já foram diagnosticados com esta doença, não devem adiar a intervenção, cirúrgica ou outra, que lhes foi indicada pelo médico – alertou na TVI Rui Campante Teles , cardiologista de intervenção do Hospital da Luz Lisboa e membro da Associação Portuguesa de Intervenção Cardiovascular (APIC). A estenose aórtica é uma doença que, segundo se estima, afeta mais de 30 mil portugueses. O nosso coração tem quatro válvulas e a estenose aórtica, explicou Rui Campante Teles, é uma doença de uma das válvulas do coração: “As válvulas impedem que o sangue, depois de ir no sentido da aorta, volte para trás. Isso deixa de acontecer quando há um aperto de uma das válvulas”, afetando a circulação do sangue. Quem tem sintomas como os acima referidos “tem de ir médico, que vai começar por auscultar e ouvir o ‘sopro’ do sangue a passar por essas válvulas, que lhe indica que pode haver essa doença”. O tratamento da estenose aórtica consiste em substituir a válvula doente, através de cirurgia ou por cateterismo. “Em Portugal, fazem-se todos os anos cerca de 800 intervenções por cateterismo e, com a covid-19, tivemos uma redução de 20% a 50% nos vários centros hospitalares em Portugal – uma redução temporária, que está em recuperação e que não pode parar, pois estamos a falar de uma doença grave”, acrescentou o cardiologista. “É muito importante ter essa noção de que não existe só COVID-19 e que há de facto pessoas que estão a perder a vida com doenças como estenose aórtica, enfarte do miocárdio e AVC, que deixam de ser tratadas por terem receio e não recorrerem aos serviços de saúde. A estatística indica que a mortalidade tem aumentado não apenas devido à COVID-19 e existe a suspeita de que as pessoas não estão a ter acesso aos cuidados de saúde que tinham antes”, concluiu. Rui Campante Teles na TVI A importância de manter o acesso aos cuidados de saúde , agudos e crónicos, bem com as intervenções cardíacas durantes estes tempos de pandemia foi também o tema de uma entrevista que Rui Campante Teles deu à revista Visão Saúde. “Alguns doentes cardíacos recusaram ser tratados durante a pandemia e acabaram por não sobreviver”, salientou o cardiologista que é também coordenador da campanha Corações de Amanhã , uma iniciativa da APIC que tem como objetivos promover o conhecimento e compreensão sobre a doença valvular cardíaca. Entrevista de Rui Campante Teles à Visão Saúde