Um grupo de 15 médicos do Hospital da Luz Lisboa acaba de publicar na revista “Medicina” um estudo sobre os motivos que levaram a que as mulheres grávidas ou em fase de pós-parto atendidas neste hospital tenham necessitado de assistência e internamento em cuidados intensivos. Foram selecionados todos os 150 casos registados entre 2007 e 2022, num total de 34.360 mulheres, o que faz deste estudo o maior alguma vez realizado em Portugal e um dos maiores da Europa, fornecendo indicadores preciosos sobre saúde e mortalidade maternas. O estudo tem por título “Obstetric Intensive Care Admissions and Neonatal Outcomes: 15 Years of Experience from a Single Center” (“Admissões em cuidados intensivos obstétricos e resultados neonatais: 15 anos de experiência de um único centro”). Foi realizado por médicos das especialidades de Ginecologia-Obstetrícia, Medicina Interna, Medicina Intensiva e Neonatologia – nomeadamente, Filipa Ramalho Rocha , Tiago Neto Gonçalves , Maria Inês Xavier-Ferreira , Francisco Laranjeira , Gonçalo Meleiro Magalhães , Maria Inês Lopes , Marta Sousa , Daniela Pestana , Élia Fernandes , Ana Chung , Ana Berdeja , Gonçalo Cassiano Santos , Natália Marto , António Messias e Jorge Lima . As mais-valias desta investigação “O nosso estudo tem pontos fortes significativos”, salienta Jorge Lima, coordenador do estudo e responsável do Centro de Alto Risco Obstétrico do Hospital da Luz Lisboa . E aponta os principais aspetos: “Em primeiro lugar, analisámos um grande número de casos, representando, tanto quanto sabemos, a maior coorte desta população no nosso país e uma das maiores da Europa. Em segundo lugar, o nosso período de observação estendeu-se por 15 anos, o que é consideravelmente mais longo do que muitos estudos relatados na literatura existente, além de nos ter permitido identificar os motivos da necessidade de cuidados intensivos e medir os resultados de forma mais consistente”. O Hospital da Luz Lisboa tem registado nos últimos anos uma média acima de 3.000 partos, sendo atualmente uma das maiores maternidades do país. “A morbilidade e a mortalidade são medidas de avaliação dos cuidados de saúde maternos e os internamentos em cuidados intensivos (UCI) são indicadores que podem ser utilizados para os estudar. Aqui, (…) foram analisadas variáveis de internamento e variáveis neonatais relativas a mulheres admitidas durante a gravidez e até 42 dias após o parto”, explicam os autores no preâmbulo do artigo. “Este estudo é um dos poucos estudos nacionais sobre internamentos em cuidados intensivos obstétricos e é o primeiro realizado em ambiente hospitalar privado, acrescentando uma perspetiva única sobre a morbilidade materna em Portugal”, sublinham. Entre as principais conclusões, destacam-se as seguintes: Durante o período de 15 anos do estudo, a UCI do Hospital da Luz recebeu 150 admissões obstétricas envolvendo 148 pacientes, num total de 34.360 partos; As admissões na UCI obstétrica durante este período representaram aproximadamente 0,9% do total de admissões de adultos, com uma taxa de admissão de 4,4 por 1.000 partos ; A idade média das mulheres admitidas foi de 34 anos, variando entre 21 e 54 anos. Quase metade (45%) destas mulheres tinham mais de 35 anos, sendo que as pacientes com mais idade apresentaram taxas mais elevadas de admissão devido a hemorragia pós-parto e tinham mais gravidezes anteriores e cesarianas, em comparação com as pacientes com menos de 35 anos. No entanto, não houve diferença significativa nas doenças hipertensivas entre os dois grupos; Apesar das variações demográficas e das diferenças sociais inerentes a uma coorte proveniente de cuidados de saúde privados, a incidência e o padrão de internamentos em UCI foram semelhantes aos de outras coortes, predominantemente caracterizadas por admissões devido a hemorragia pós-parto e doenças hipertensivas da gravidez ; Em comparação com outras coortes e registos nacionais de países desenvolvidos, as doentes aqui estudadas tinham tipicamente mais idade e uma menor prevalência de doenças crónicas e relacionadas com a gravidez. No entanto, registou-se um maior recurso à medicina da reprodução; As necessidades específicas das pacientes em UCI obstétrica realçam a necessidade de formação especializada de equipas multidisciplinares. A hemorragia pós-parto grave foi responsável por morbilidade e incapacidade significativas, o que exige uma reavaliação das práticas de parto. O artigo “ Obstetric Intensive Care Admissions and Neonatal Outcomes: 15 Years of Experience from a Single Center ” foi publicado a 25 de novembro de 2024.