José Lourenço Reis , especialista em Ginecologia-Obstetrícia do Hospital da Luz, concluiu o doutoramento em Medicina, no passado dia 1 de abril, na Faculdade de Ciências Médicas/Nova Medical School (FCM/NMS) da Universidade Nova de Lisboa, tendo obtido a aprovação do júri por unanimidade e com distinção. A sua tese, intitulada “Recetores inibidores das células imunológicas e endometriose” , centrou-se no estudo da disfunção imunológica associada à endometriose, com especial enfoque nas células NK ( natural killer ) e linfócitos T, bem como no papel dos recetores inibidores PD-1 (Programmed Cell Death Protein 1) e TIM-3 (T-cell Immunoglobulin and Mucin Domain 3). O trabalho envolveu a análise dos perfis imunitários no líquido peritoneal e no sangue periférico de doentes com endometriose, comparando-os com um grupo controlo. “Os resultados sugerem que desequilíbrios imunológicos ao nível destes recetores podem comprometer a eliminação eficaz das células endometriais ectópicas, favorecendo um estado inflamatório crónico, um dos traços característicos da doença”, explica José Reis. Este estudo representa, assim, “um contributo para o avanço do conhecimento na área da imunologia da endometriose e poderá vir a abrir caminho para novas abordagens terapêuticas, centradas na modulação do sistema imunitário” . Principais conclusões da investigação: A função dos recetores das células NK é determinante na resposta imunológica, sendo essencial para a deteção e eliminação de células anómalas. Na endometriose, esta função encontra-se comprometida, com redução da vigilância imunológica e aumento da supressão, o que favorece a persistência da doença. A expressão aumentada de PD-1 nas células NK do líquido peritoneal compromete a sua ação local, dificultando a eliminação das células endometrióticas pelo sistema imunitário e contribuindo para a progressão da doença. As células T com expressão diminuída de TIM-3 perdem parte da sua capacidade reguladora, promovendo um ambiente inflamatório descontrolado nas zonas de implantação das células endometrióticas . Esta alteração está associada a episódios inflamatórios recorrentes e à progressão da doença, sendo particularmente evidente em casos de endometriose grau III e IV e em doentes com envolvimento intestinal, o que sugere uma correlação entre a gravidade da doença e o grau de disfunção imune. Na foto em cima, o novo doutor e os membros do júri: Jorge Lima (da FCM/NMS e orientador da tese), Maria de Fátima Serrano (FCM/NMS), Hélder Ferreira (Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto), Luís Pereira da Silva (FCM/NMS e presidente do júri), Cristina Nogueira da Silva (Escola de Medicina da Universidade do Minho) e Maria João Carvalho (Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra). O trabalho de investigação teve como coorientadores Luís Miguel Borrego (FCM/NMS) e Catarina Martins (FCM/NMS).