A sensação é a de estar numa viagem de avião, ainda que com os pés bem assentes na terra. Mas o que acontece mesmo é uma espécie de mergulho a grande profundidade dentro de um submarino. Um mergulho que só deve acontecer porque é preciso tratar ou recuperar de um problema de saúde. Na nova câmara hiperbárica do Hospital da Luz Lisboa (HLL), os doentes ‘mergulham’ durante 110 minutos para tratar feridas difíceis, para recuperar mais rapidamente de cirurgias e de lesões desportivas, para reverter lesões neurológicas. As indicações terapêuticas com evidência clínica são cada vez mais e o número de doentes que podem fazer este tratamento, mergulhando habitualmente a 15 metros de profundidade numa câmara hiperbárica, cresce de dia para dia. Como explica a coordenadora do Centro de Medicina Hiperbárica do HLL, a médica internista e intensivista Cláudia Febra, “hoje, a medicina hiperbárica é um recurso terapêutico relativamente comum em áreas da medicina tão diferentes como a traumatologia e a ortopedia, a neurologia, a oncologia, sendo cada vez mais usual também na medicina desportiva” . O Hospital da Luz Lisboa já tem em funcionamento a sua nova câmara hiperbárica multilugar de nova geração – a primeira do género na Península Ibérica -, um equipamento com capacidade para 16 doentes em simultâneo e para reproduzir um mergulho até 15 metros de profundidade, permitindo assim que “os doentes obtenham uma concentração de oxigénio dissolvido no sangue cinco vezes superior à que se consegue com o oxigénio administrado em condições normais” , explicou Cláudia Febra, em declarações ao jornal Correio da Manhã, que recentemente visitou o novo Centro de Medicina Hiperbárica do Hospital da Luz. Deste modo, disse ainda a especialista, “conseguimos que o oxigénio chegue a todos os tecidos, que estejam em sofrimento por feridas, queimaduras, traumatismo desportivos, inflamações nos ossos e articulações… É até possível ajudar em tratamentos a recém-nascidos, que sofrem complicações neurológicas por falta de oxigenação no momento do parto” . A oxigenoterapia hiperbárica utiliza-se, então, no tratamento de complicações ou de doenças que resultem de má oxigenação: Feridas que não saram facilmente, sobretudo quando infetadas; Feridas diabéticas prolongadas; Intervenções cirúrgicas com retalhos/implantes de tecido que não resultam; Feridas de doentes que têm má circulação, que sofrem de doença arterial ou venosa complicada; Na oncologia, em complicações da radioterapia (queimaduras nos tecidos, complicações ao nível da bexiga, intestinos, etc; aliás, no tratamento de complicações da radioterapia nas estruturas intra-abdominais, a medicina hiperbárica já é, de facto, de primeira linha). E também na traumatologia hospitalar, na neurologia, na endocrinologia, entre outras. Os tratamentos feitos com recurso a esta tecnologia permitem ainda reduzir consideravelmente o tempo de recuperação em meses – o que é especialmente relevante quando se trata de lesões desportivas em atletas de alta competição, por exemplo -, sendo “um tratamento que não exige grande esforço ao doente, apenas alguma disponibilidade de tempo” . A equipa clínica do Centro de Medicina Hiperbárica do Hospital da Luz Lisboa, composta por médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde especializados e com experiência nesta área, está já a trabalhar em pleno, com a nova câmara hiperbárica a receber doentes desde setembro passado. O acesso ao Centro pode ser feito por iniciativa própria ou por referenciação médica, para tratamentos programados e não programados, tanto em regime de ambulatório ou em pessoas internadas no Hospital da Luz ou noutras unidades hospitalares. O primeiro passo é sempre a marcação de uma Consulta de Medicina Hiperbárica. Nesta consulta é feita uma avaliação do caso, decidida a eventual indicação de oxigenoterapia hiperbárica e prescrito o tratamento mais adequado, incluindo: Número de sessões de tratamento; Duração das sessões de tratamento; Pressão utilizada em cada tratamento. Para a avaliação em consulta de medicina hiperbárica são necessários alguns exames, que têm de ser realizados se não estiverem disponíveis resultados com menos de seis meses: eletrocardiograma (ECG); Radiografia (raio-X) ao tórax; e timpanograma.