Todas as crianças que fizeram o rastreio gratuito realizado pelo Hospital da Luz Setúbal a 6 de março, Dia Europeu da Terapia da Fala, revelaram ter algum tipo de perturbação da linguagem ou fala, considerado patológico para a idade. A maioria (70%) das crianças, que tinham idades entre os três e os seis anos, era do género masculino. Das cerca de 15 crianças avaliadas, 29% apresentaram dificuldades nos fonemas vozeados (o que é indicador de que existe, ou já existiu, uma alteração na discriminação auditiva), tendo sido encaminhadas para consulta de otorrinolaringologia. E cerca de 50% apresentaram mesmo alterações no discurso mais graves, com desvio maior relativamente à normalidade, que serão agora avaliadas em consulta de terapia da fala. As alterações da fala e da linguagem são as perturbações do desenvolvimento mais frequentes nas crianças em idade pré-escolar (atinge entre 5% a 10%). O desenvolvimento da linguagem ocorre espontaneamente e por etapas, com diferenças nas velocidades e estilos de aquisição, mas é um mito a ideia de que, depois de crescer, a criança aprenderá a falar bem. A verdade é que a aquisição da linguagem e dos sons da fala tem um timing adequado, findo o qual é necessária ajuda especializada para não se desenvolver um atraso, como explica Nuno Silva, terapeuta da fala do Hospital da Luz Setúbal. Por exemplo: «Se uma criança de três anos não diz o ‘r’ em palavras como ‘rato’ ou ‘rolha’, isto já é considerado patológico para a idade (pois já o devia dizer); o mesmo não sucede se uma criança com quatro anos e meio não diz essa letra em palavras como ‘pera’ ou ‘morango’. É a mesma letra, mas o ponto articulatório é completamente diferente». Sinais de alerta É importante, por isso, «os pais estarem atentos a certos sinais de alerta», que devem levá-los a ponderar procurar a ajuda de um terapeuta da fala, como salienta Nuno Silva. Por exemplo: A criança produz poucos sons e gestos (como o ‘apontar’, entre os 7-12 meses); Não compreende o que os outros dizem (7-12 meses); Produz poucas palavras (12-18 meses); As suas produções são difíceis de serem compreendidas pelos interlocutores (18 meses-2 anos); Não junta palavras para construir frases (18 meses-3 anos); Apresenta dificuldade em brincar e falar com outras crianças (2-3 anos); Omite e/ou troca sons nas palavras; Apresenta bloqueios, repetições e prolongamentos de sons, sílabas ou palavras; Tem voz rouca ou nasalada ou respira maioritariamente pela boca; Apresenta dificuldades na mastigação/deglutição de alimentos ou ao nível da leitura e da escrita.