Uma equipa do Hospital da Luz Lisboa realizou esta semana, e pela primeira vez em Portugal, uma ablação não invasiva por radioterapia estereotáxica , para tratar um doente com taquicardia ventricular resistente. O procedimento resultou de um trabalho conjunto de especialistas de cardiologia, radioterapia e imagiologia do Hospital da Luz Lisboa , foi feito em regime ambulatório e concluído com sucesso, tendo o doente saído do hospital pelo seu próprio pé algumas horas depois. O facto de ser realizado de forma não invasiva, sem a introdução de cateteres, resultou numa recuperação rápida e total para o doente. A equipa do Hospital da Luz Lisboa foi liderada por Ana Leonor Parreira (Cardiologia), Francisco Mascarenhas (Radiooncologia) e António Miguel Ferreira (Cardiologia e Imagiologia) e contou com a colaboração das físicas médicas Sofia Faustino e Sara Germano. Como explicou o radiooncologista Francisco Mascarenhas, «o tratamento foi feito com um acelerador linear Elekta Versa com fotões 6 Mv, com técnica de arcoterapia de intensidade modulada. Esta técnica é guiada por imagem, estando o doente em inspiração profunda, e controlada por um sistema de monitorização ótica da superfície corporal baseada em infravermelhos, em conexão síncrona e contínua com o acelerador linear». A radioterapia corporal estereotáxica, conhecida por SBRT, tem sido utilizada no tratamento do cancro desde há vários anos. Em 2017, no Washington University Hospital em St. Louis, nos Estados Unidos, o Prof. Phillip S. Cuculich e a sua equipa fizeram um protocolo para a ablação de taquicardia ventricular resistente por radioterapia estereotáxica. Esta técnica tem sido adotada por alguns dos centros cardíacos mais importantes do Mundo, como o Instituto do Coração em S. Paulo, no Brasil. Trata-se de uma modalidade terapêutica para a ablação de taquicardias ventriculares resistentes, que está agora, finalmente, disponível em Portugal, apenas no Hospital da Luz Lisboa. A taquicardia ventricular é responsável por cerca de metade das mortes em doentes com cardiopatia estrutural . Isto porque a terapêutica farmacológica utilizada para estas situação muitas vezes não é eficaz e tem uma taxa de sucesso muito baixa na prevenção de recidivas. A ablação estereotáxica não invasiva surge, assim, como uma nova oportunidade de tratamento para estes doentes , especialmente aqueles em que se verifique falência da terapêutica de ablação por cateter ou em que esta esteja contraindicada. O protocolo clínico deste primeiro tratamento em Portugal foi preparado e desenvolvido no Centro do Ritmo Cardíaco do Hospital da Luz Lisboa, liderado por Pedro Adragão , em conjunto com as equipas de Eletrofisiologia, Radioncologia e Imagiologia do HLL. «A larga experiência do Hospital da Luz Lisboa em imagiologia cardíaca, radioterapia estereotáxica, mapeamento não invasivo e ablação por cateter foram determinantes para concluir com sucesso este projeto, que vem preencher uma lacuna a nível nacional quanto a alternativas terapêuticas para estes casos difíceis», conclui a cardiologista Ana Leonor Parreira.