“Eu sou apenas uma criança e não tenho força para aguentar o peso. Tento afastar a minha dor a mandar murros na parede da minha casa de banho”. Esta frase é retirada de uma das mil cartas escritas por crianças e jovens de todo o país durante os períodos em que estiveram confinadas – uma iniciativa do Museu das Comunicações, que esteve em destaque numa reportagem do “Telejornal” da RTP, a 5 de junho, e que foi comentada por Bárbara Salgueiro , pediatra de desenvolvimento do Hospital da Luz Lisboa. Para a especialista, estas cartas são bem reveladoras do impacto que a pandemia de COVID-19 teve na saúde mental de crianças e jovens. “Encontramos miúdos com perturbações de ansiedade – que são agora diagnosticadas agora ou então já anteriormente tinham sido detetadas e descompensaram – e também muitos com comportamentos autolesivos. E isto não apenas em adolescentes mais crescidos, mas também em crianças de nove ou 10 anos”, relata. Bárbara Salgueiro lembra que “ as crianças são muito hábeis a esconder o que sentem e pensam ”. Por isso, é muito importante que, “quando os pais estão mergulhados em teletrabalho, olhem de facto para a criança, pelo menos uma hora por dia, e tenham uma conversa séria com ela, para tentar desbravar de alguma forma dentro dos seus pensamentos e sentimentos”. Reportagem ‘Cartas da pandemia’