O British Medical Journal (BMJ), uma das mais conceituadas revistas de medicina do mundo, publicou em setembro um artigo sobre os benefícios dos cuidados paliativos no caso de um doente com cancro da junção gastroesofágica e que depois desenvolveu uma complicação neurológica rara (carcinomatose leptomeníngea), que foi acompanhado na Unidade de Cuidados Paliativos no Hospital da Luz Lisboa , com apoio de várias especialidades (Oncologia, Neurocirurgia e Radioncologia). São autores do artigo os médicos Renato Cunha e Mariana Inácio (internos de Oncologia do Hospital do Espírito Santo, em Évora), João Godinho (interno do Departamento de Oncologia do Hospital Beatriz Ângelo) e Isabel Galriça Neto (diretora da Unidade de Cuidados Continuados e Paliativos do Hospital da Luz Lisboa, onde Renato Cunha e João Godinho estavam a estagiar). No caso analisado , um ano e meio depois de ter sido operado fora de Portugal, o doente começou a registar perda de forças nas pernas, falta de equilíbrio e disfagia, tendo sido encaminhado, após revisão em oncologia, para controlo e estabilização de sintomas em cuidados paliativos. Após novos exames, em que se verificaram extensas e irreversíveis lesões neurológicas, a equipa médica multidisciplinar considerou que novos tratamentos dirigidos de quimioterapia e radioterapia não teriam efeitos benéficos em termos de sobrevivência ou qualidade de vida, pelo contrário, devido ao elevado nível de toxicidade. Tendo em conta a variabilidade das manifestações da doença, o mau prognóstico e a prioridade para os objetivos de conforto, decidiu-se que a melhor opção seria prosseguir com os cuidados paliativos e proporcionar a maior estabilidade e conforto possíveis ao doente. O doente teve alta da Unidade de Cuidados Paliativos ao fim de duas semanas do primeiro internamento, permaneceu outras duas semanas no domicílio e veio a ser readmitido na unidade cinco dias antes de falecer. Conclusões dos autores: No artigo – intitulado “Palliative approach to leptomeningeal carcinomatosis in oesophagogastric junction cancer” –, são reavaliadas as possibilidades de tratamento médico conhecidas, com especial enfoque nas potencialidades benéficas que os cuidados paliativos têm para os doentes diagnosticados com estes tumores raros, desejavelmente não numa fase demasiado tardia. “Embora a carcinomatose leptomeníngea seja rara, este caso é importante para compreender as diferenças entre as estratégias disponíveis e apoiar a abordagem interdisciplinar dos cuidados paliativos, com benefícios para os pacientes e para a família, tanto ao nível físico como psicossocial.”