A Organização Internacional para o estudo da Doença Inflamatória do Intestino (IOIBD, na sigla inglesa) atribuiu a Joana Torres , gastrenterologista do Hospital Beatriz Ângelo e do Hospital da Luz, uma bolsa de 50 mil euros para a realização de um projeto de investigação sobre a influência de certos fatores ambientais (exposição a metais pesados) no desenvolvimento daquela doença. O projeto de Joana Torres – “ Fetal and postnatal metal dysregulation as environmental risk factors for IBD ” – foi escolhido entre 12 candidaturas e terá por base amostras de dentes de leite doados por pessoas com doença inflamatória do intestino (DII) e por pessoas que a não tenham. A investigação surge na sequência da colaboração da gastrenterologista com os departamentos dos investigadores Manish Arora (Icahn School of Medicine, Mount Sinai, em Nova Iorque), Jean-Frédéric Colombel e Inga Peter (Mount Sinai Hospital). A Doença Inflamatória do Intestino (DII) engloba duas doenças: a doença de Crohn e a colite ulcerosa . Ambas são doenças crónicas que provocam inflamação no intestino e que registam períodos de agudização e remissão. São doenças habitualmente diagnosticadas no final da adolescência ou no início da vida adulta e as causas permanecem até hoje desconhecidas . “ O aumento recente de casos em todo o mundo, e especialmente em países em vias de desenvolvimento, sugere um forte papel de fatores do ambiente. Além disso, existe evidência epidemiológica de que determinadas exposições em fases precoces da vida possam ser determinantes. O estudo da exposição a esses fatores é, no entanto, um desafio clínico ”, explica Joana Torres. Neste sentido, o objetivo desta investigação é avaliar se a exposição a metais pesados em fases como a vida intrauterina e a infância pode estar associada à DII, recorrendo à análise de dentes de leite recolhidos entre indivíduos com ou sem a doença, que tenham guardado os seus dentes de leite ou os de familiares (com o sem DII) e que tenham a certeza que são seus. A explicação para este método reside no facto de os dentes de leite, à semelhança do tronco de uma árvore, desenvolverem-se de forma circunferencial, por várias ‘camadas’, armazenando informação sobre os diversos compostos aos quais somos expostos desde a vida intrauterina até à altura em que o dente cai. Recorrendo a tecnologias com laser, é possível avaliar a matriz destes dentes e perceber possíveis associações entre exposições nestas fases do desenvolvimento e a existência de DII. Esta investigação vai ser divulgada também através da Associação Portuguesa da Doença Inflamatória do Intestino (APDI). Para participar, inscreva-se (será contactado, posteriormente, por telefone). Todas as doações de dentes de leite são bem-vindas.