Sérgio Barra, médico cardiologista do Hospital da Luz Arrábida, é o autor principal de um artigo científico que acaba de ser publicado pelo conceituado European Heart Journal, revista oficial da Sociedade Europeia de Cardiologia e atualmente a de maior impacto mundial nesta área. O artigo, que tem por base um estudo observacional multicêntrico europeu, aborda o tratamento de ressincronização cardíaca, que é feito por doentes com insuficiência cardíaca, disfunção ventricular esquerda e dissincronia elétrica (com consequente dissincronia mecânica). Leia o resumo do artigo publicado a 7 de julho sob o título ‘Very long-term survival and late sudden cardiac death in cardiac resynchronization therapy patients’. Estudos anteriores mostraram que a terapêutica de ressincronização cardíaca (CRT) permite reduzir o risco de hospitalização por insuficiência cardíaca, bem como melhorar a qualidade de vida do doente e reduzir o seu risco global de mortalidade. O CRT consiste na implantação de um dispositivo no tórax, debaixo da pele, para ressincronizar o ventrículo esquerdo e assim melhorar o funcionamento do coração. O dispositivo pode ser implantado de forma isolada (CRT-P) ou associado a um desfibrilhador (cardioversor desfibrilhador implantável, designado por CRT-D). Uma vez que este é um dispositivo mais caro e associado a maior risco de complicações, é importante perceber se o mesmo traz de facto um benefício prognóstico, quando comparado com o primeiro, implantado isoladamente. O artigo de Sérgio Barra, em que são coautores 21 outros especialistas estrangeiros, descreve um estudo observacional multicêntrico, envolvendo dezenas de centros hospitalares de Inglaterra, França, República Checa e Suécia, e mais de 3000 doentes que foram sujeitos a ressincronização cardíaca, com ou sem desfibrilhador, que cumpriram pelo menos os primeiros cinco anos de follow-up. Estes doentes foram acompanhados após esses cinco anos, para avaliação do risco de mortalidade a muito longo prazo, causas de morte e eventual benefício do desfibrilhador. «O estudo mostrou que, a muito longo prazo, a presença do desfibrilhador não confere benefício prognóstico significativo comparado com o CRT isoladamente. Em doentes com CRT que estão vivos ao fim dos primeiros cinco anos após a implantação, a causa de morte mais frequente é aquela resultante de insuficiência cardíaca, enquanto a morte súbita representa uma percentagem muito pequena dos casos, independentemente da presença/ausência do desfibrilhador», afirma-se nas conclusões. Sérgio Barra é também médico cardiologista nas unidades do Hospital da Luz em Amarante, Cerveira, Guimarães e Porto.