O Centro Clínico Digital do Hospital da Luz, e a sua aposta nas videoconsultas , nasceu em 2016, muito antes da pandemia de COVID-19, mas esta produziu um efeito acelerador muito grande. “No primeiro mês após a pandemia, as nossas videoconsultas aumentaram cerca de 3000%. Passado um ano, o número de especialidades disponíveis com videoconsulta passou de 14 para 40 e os médicos envolvidos de 50 para mais de 600”, explica Daniel Ferreira , diretor clínico do Hospital da Luz Centro Clínico Digital , em entrevista ao site Inside Now, uma plataforma da Newsfarma que pretende dar a conhecer a nova realidade dos centros hospitalares com a Covid-19. Na entrevista, o médico cardiologista recorda como nasceu o Centro Clínico Digital , que tinha já na altura um conceito “muito diferente do da telemedicina” (nascida para suprir as carências dos hospitais em termos de especialistas) e quais as suas vantagens . “Queríamos que fosse algo facilitador para os nossos clientes com doenças crónicas estabilizadas e que já conhecíamos: poder oferecer-lhes a hipótese de, em algumas das consultas, não terem de vir sempre ao hospital e irmos alternando consultas à distância com consultas presenciais. Por exemplo, quando faziam exames, a consulta seguinte podia ser à distância, para analisar os resultados”, recorda. Neste momento, todos os hospitais da rede Hospital da Luz têm videoconsultórios (só no Hospital da Luz Lisboa existem 15), que são usados por mais de 600 médicos, sendo que cerca de mil médicos já fizeram a formação para realizar este tipo de consultas. Uma consulta (quase) exatamente igual à consulta presencial “Desde o início, o nosso conceito é o de que uma videoconsulta é exatamente igual a uma consulta presencial, apenas com dois aspetos distintos: não consigo fazer um exame físico – embora consiga aperceber-me de muitas coisas através da câmara, como, por exemplo, como é que a pessoa reage, se está ansioso ou se está deprimido – e o doente não está no mesmo espaço físico, o que até é conveniente nos tempos atuais”, afirma Daniel Ferreira. De resto, acrescenta, a videoconsulta cumpre todos os requisitos da consulta presencial , em termos de confidencialidade, privacidade e segurança. Mas a pandemia não só acelerou a adesão dos médicos e dos doentes (devido ao medo em deslocarem-se ao hospital), como fez evoluir o conceito: “Fomos abrindo novas valências. No início, as videoconsultas eram só para os doentes que já conhecíamos, mas agora não. Por exemplo, se vier à urgência e tiver de fazer umas análises, já pode fazer a seguir uma videoconsulta para discutir com o médico os resultados”. E há ainda a LUZ 24 , uma linha telefónica de triagem clínica, feita com base em protocolos rigorosos, que encaminha as pessoas para a opção mais adequada: ida à urgência, videoconsulta ou consulta programada, por exemplo. Daniel Ferreira demonstra ainda como as videoconsultas podem ser decisivas para controlar as doenças crónicas, ainda mais em altura de pandemia de COVID-19 , a qual constitui “um risco acrescido”. “Estamos a assistir em todo o mundo que os doentes chegam muito tarde ao hospital. Ora, um doente crónico estabilizado pode, a qualquer momento e por qualquer motivo, ficar instável. Por exemplo, na doença coronária: basta não terem acesso fácil ao médico, não renovarem as receitas e estarem sem medicação durante alguns dias e descompensam gravemente, com risco de terem um enfarte. Há aqui, portanto, também este aspeto muito importante nas videoconsultas: o doente não ter medo de vir ter connosco quando é preciso”. Entrevista de Daniel Ferreira na Inside Now